RADIUMBANDA

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

OMULU - OBALUAÊ




Omulu ou Obaluaê, também chamado Xapanã e Sapatá, é o senhor da peste, da varíola, da doença infecciosa,  o conhecedor de seus segredos e de  sua cura.

Correspondência com os santos católicos: São Lázaro  jovem) e Cristo das Chagas (velho).



Quando Omulu era um menino de uns doze anos, saiu de casa e foi para o  mundo para fazer a vida.
De cidade em cidade, de vila em vila, ele ia oferecendo os seus serviços, procurando emprego. Mas Omulu não conseguiu nada.
Ninguém lhe dava o que fazer, ninguém o empregava. Ele teve que pedir esmola, mas ao menino ninguém dava nada, nem do que comer, nem do que beber.
Tinha um cachorro que o acompanhava e só.
Omulu e seu cachorro retiraram-se no mato e foram viver com as cobras.
Omulu comia o que a mata dava: frutas, folhas, raízes.
Mas os espinhos da floresta feriram o menino.

As picadas de mosquito cobriam-lhe o corpo. Omulu ficou coberto de chagas.
Só o cachorro confortava Omulu.
Um dia, quando dormia, Omulu escutou uma voz:
"Estás pronto. Levanta e vai cuidar do povo".
Omulu viu que todas as suas feridas estavam curadas. Não tinha dores nem febre.
Obaluaê juntou as cabacinhas, os atós, onde guardava água e remédios que aprendera a usar com a floresta, agradeceu a Olorum e partiu.
Naquele tempo uma peste infestava a Terra.
Por outro lado estava morrendo gente. Todas as aldeias enterravam os seus mortos.
Os pais de Omulu foram a um babalaô e ele disse que Omulu estava vivo e que ele traria cura para a peste.
Todo lugar onde chegava, a fama precedia Omulu. Todos esperavam-no com festa, pois ele curava.
Os que antes lhe  negaram até mesmo água para beber agora implorava por sua cura.
Ele curava todos, afastava a peste. Então diziam que se protegessem, levando na mão uma folha de dracena, o peregum, e pintando a cabeça com efum, ossum e uági, os pós branco, vermelho e azul usando nos rituais e encantamentos.
Curava os doentes e com o xaxará varria a peste para fora da casa, para que a praga não pegasse outras pessoas da família.
Limpava casas e aldeias com a mágica vassoura de fibras de coqueiro, seus instrumento de cura, seu símbolo, seu cetro, o xaxará.
Quando chegou em casa, Omulu curou os pais e todos estavam felizes.
Todos cantavam e louvavam o curandeiro e todos o chamavam de Obaluaê, todos davam vivas ao Senhor da Terra, Obaluaê.

Chegando de viagem à aldeia onde nascera, Obaluaê viu que estava acontecendo uma grande festa com a presença de todos os orixás. Obaluaê não podia entrar na festa, devido á sua medonha aparência. Então ficou espreitando pelas frestas do terreiro.
Ogum, ao perceber a angústia do orixá,  cobriu-o com uma roupa de palha que ocultava a sua cabeça e convidou-o a entrar e aproveitar dos festejos. Apesar de envergonhado, Obaluaê entrou, mas ninguém se aproximou dele.
Yansã tudo acompanhava com o rabo do olho. Ela compreendia a triste situação de Omulu e dele se compadecia. Iansã esperou que ele estivesse bem no centro do barracão. O xirê estava animado. Os orixás dançavam alegremente com suas equedes. Yansã então chegou bem perto dele e soprou suas roupas de mariô, levantando as palhas que cobriam a sua pestilência.
Nesse momento de encanto e ventania, as feridas de Obaluaê pularam para o  alto, transformadas numa chuva de pipocas, que se espalharam brancas pelo barracão.
Obaluaê, o deus das doenças, transformou-se num jovem, num jovem belo e encantador.
Obaluaê e Yansã Igbalé tornaram-se grande amigos e reinaram juntos sobre o mundo dos espíritos, partilhando o poder único de abrir e interromper as demandas dos mortos sobre os homens.


(Prandi, Reginaldo. In Mitologia dos Orixás)

terça-feira, 2 de outubro de 2012





Nós Umbandistas, exigimos respeito das outras religiões e segmentos da sociedade, ficamos indignados, quando falam mal de alguma coisa referente à nossa religião, criamos movimentos, mas...
Como vamos exigir respeito se nós mesmos não nos respeitamos?
Como vamos cobrar igualdade se dentro de nossa própria religião somos preconceituosos com aqueles que pensam e/ou agem diferente de nós?
Se não aceitamos críticas?
Alguns umbandistas se acham a “última coca cola gelada do sertão”, apenas por ostentarem títulos como “pais” ou “mães”, adoram criticar, mas não aceitam críticas, tornam-se donos da verdade e combatem aqueles que não aceitam estas verdades...
Há alguns dias atrás recebi críticas, ao dizer que antes de criarmos um movimento para cobrar respeito de outros segmentos, deveríamos debater nossa conduta, mas cada vez mais vejo que tinha razão.
Qual é a importância se a Umbanda que pratico adota imagens e a do outro não?
Qual é a importância se na Umbanda que pratico acendemos velas ou não? Etc, etc...
O que realmente importa é a essência, o amor, a fé e a seriedade com que ela é praticada, a partir do momento em que começarmos a mostrar isto para a sociedade com certeza seremos respeitados...
Vamos parar de nos tratar como concorrentes comerciais, ou pior concorrentes políticos, e vamos agir como irmãos de fé...
Vamos parar de querer censurar irmãos que nos questionam, ou que não concordam com nossas idéias e vamos chamá-los para debatê-las...Vamos parar de usar nossos títulos como garantia de sermos sábios e passar a agir como o que realmente somos:  APRENDIZES.
Penso que se todos tivéssemos o dom da vidência, inúmeras vezes poderíamos ver nossos amados guias espirituais, tristes, indignados e até chorando ao nos ver tomando determinadas atitudes...


Abraços
Marco Boeing – ASSEMA / Curitiba

domingo, 12 de fevereiro de 2012

TOQUES DO PRETO VELHO

“Primeiro o reino de Deus e sua Justiça e o demais vos será dado por acréscimo.” (Jesus)

            Os espíritos trabalhadores na linha de Umbanda, designados de Pretos Velhos, nos repassam constantemente uma lógica que, infelizmente, nós, encarnados ainda estamos demorando em aplicar. Dizem eles, com sua maneira muito peculiar e simples de expressão, que no “mundo dos mortos” não existe raça, cor ou credo que diferencie as almas ou crie fronteiras, o que existe é o homem de bem e o homem que desaprendeu de ser bom. Baseado nisso, nos falam das lágrimas que insistem em cair de seus olhos, pela arrogância dos homens e de suas religiões que acabam se distanciando de Deus, pela pretensão de se adonar d’Êle, impondo a “sua” verdade.
            As religiões ou os credos em geral existem por necessidade de nossos espíritos, que se diferenciam na escala evolutiva, encontrando dentro de cada uma delas a melhor adaptação de “religar-se” ao Criador. O que fica desvalorizado aos olhos da Espiritualidade Superior é o combate que se trava entre os homens por questões religiosas, como se vivessem em eterna disputa, chegando ao absurdo das ditas “guerras santas”. Por enquanto, a humanidade percorre vários caminhos em busca dessa verdade, mas chegará o dia em eu o Universalismo será pleno, então haverá um só rebanho para um só pastor. E como acontece no “andar de cima”, formaremos uma única corrente de trabalho, auxiliando a quem necessita, mostrando que a ferramenta mediunidade tem um só objetivo: a caridade! Fora isso, tudo mais fica por conta de nosso Ego.
            Abaixo vão alguns ensinamentos, “roques” trazidos por um destes queridos amigos espirituais:
            – Lá nos planos sutis, aonde vocês muitas vezes vão quando dormem, mas ao acordarem não se lembram, existe uma grande família espiritual a lhes esperar, velar e torcer por vocês. Quebrem a barreira vibracional com sentimentos e pensamentos elevados, levando seus corações até eles. Mate a saudade espiritual que existe dentro do seu peito. Deixe a intuição fluir. Os guias espirituais não são mestres intocáveis que vocês devem reverenciar, mas sim, amigos de jornadas. Conheça-os, converse com eles, trabalhem juntos, mas sorriam e brinquem juntos também. Eles estão lhe esperando.
            – Mediunidade é coisa importante e séria, mas não diviniza nem inferioriza ninguém. Vocês sabem disso. Tem gente que pensa que ser grande médium é praticar fenômenos para “incrédulo ver”. Outros pensam que é se vestir todo com uma fantasia, “virar os olhos” e “rebolar” bastante. Não! Mediunidade é você trabalhar em parceria com os amigos do lado de cá para o bem de todos, apenas isso. Vocês complicam muito as coisas. Na verdade tudo é muito simples. Pense na manifestação das criancinhas durante o processo mediúnico. Existe algo mais simples e belo do que isso?
            – Parem de julgar a manifestação mediúnica ou a experiência do outro. Você pode até não concordar, mas caso para ele faça sentido, deixe. É dele! Isso lembra muito a postura daquele que não consegue fazer melhor e por isso mesmo vive a criticar e apontar o defeito dos outros. As experiências espirituais muitas vezes são de foro íntimo, cada um busca a sua. E cada um fica feliz com a sua! Aprendam também que a dedicação e o estudo ajudam muito. Mas o que realmente conta é o seu dia-a-dia como pessoa comum, passando pelo crivo do grande mestre que é a vida. Não adianta nada estudar muito e praticar pouco, principalmente em relação à humildade, tolerância e amor.
            – Fazer caridade é muito bom. Se, além disso, buscarem esclarecer as pessoas, melhor ainda. Tem gente que acha que, doando uma cesta básica de Natal, ao desencarnar será “salvo”. Outros ainda se acham muito especiais e caridosos, verdadeiros missionários. Não caiam nessa bobagem. Saibam que, em verdade, ao auxiliar os outros vocês ajudam a si próprios. E quando fizer a caridade, também não apenas dê o peixe, ensine as pessoas pescarem. “Caridade de consolação” ergue a pessoa, mas depois que ela já está de pé, está na hora de ensiná-la a andar com a “caridade de esclarecimento”. Pensem nisso! Faça caridade sempre que surgir a oportunidade de auxiliar o irmão. Esclarecimento leve a todos os lugares, fazendo a sua aura brilhar e contagiando as pessoas com alegria e vontade de viver.


[Informativo da Casa de Francisco de Assis – Maio/Junho 2010]

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Do que a Umbanda precisa?





“Dia destes, ao final de uma gira de desenvolvimento mediúnico, manifestou-se Pai João de Angola, o Preto Velho regente da casa. 
Como de costume, acendeu seu cachimbo, cumprimentou os presentes e chamou todos para bem perto dele, e após se acomodarem ele pediu que todos respondessem uma pergunta simples: Do que a Umbanda precisa?
E assim um a um foram respondendo:
Mais união!
Mais estudo!
Mais divulgação!
Mais Respeito!
Mais reconhecimento!
Mais, mais e mais...
Após todos manifestarem suas opiniões, Pai João sorriu e disparou: Muito se diz do que a Umbanda precisa, não é? ? E eu digo que a Umbanda precisa de filhos!
Silêncio repentino no ambiente. 
Naturalmente os filhos ficaram surpresos e ansiosos para a conclusão desta afirmação. 
Pai João pitou, pensou, pitou, sorriu e continuou: é isso. A Umbanda precisa, sobretudo, de FILHOS!
Porque um filho jamais nega sua mãe, sua origem, sua natureza. Quando alguém questiona vocês sobre o nome de sua mãe, vocês procuram dar um outro nome a ela que não seja o verdadeiro? Um filho nem pensa nisso, simplesmente revela a verdade. Assim é um verdadeiro Filho de Umbanda, não nega sua religião, nem conseguiria, pois seria o mesmo que negar a origem de sua vida, seria o mesmo que negar o nome de sua mãe. 
Um filho de Umbanda, dentro do terreiro limpa o chão com devoção e não como uma chata necessidade de faxinar. 
Um filho de Umbanda dá o melhor de si para e pelo terreiro, pois sente que ali, no terreiro, ele está na casa de sua mãe. 
Um filho de Umbanda ama e respeita seus irmãos de fé, pois são filhos da mesma mãe e sabem que por honra e respeito a ela é que precisam se amar, se respeitar e se fortalecer. 
Um filho de Umbanda sente naturalmente que o terreiro é a casa de sua mãe, onde ele encontra sua família e por isso quando não está no terreiro sente-se ansioso para retornar, e sempre que lá está é um momento de alegria e prazer. 
Um filho de Umbanda não precisa aprender o que é gratidão. Porque sua entrega verdadeira no convívio com sua mãe, a Umbanda, já lhe ensina por observação o que é humildade, cidadania, família, caridade e todas as virtudes básicas que um filho educado carrega consigo. 
Um filho de Umbanda não espera ser escalado ou designado por uma ordem superior para fazer e colaborar com o terreiro, ele por si só observa as necessidades e se voluntaria, pois lhe é muito satisfatório agradar sua mãe, a Umbanda. 
Um filho de Umbanda sabe o que é ser Filho e sabe o que é ter uma Mãe. 
Quando a Umbanda agregar em seu interior mais Filhos que qualquer outra coisa, estas necessidades que vocês tanto apontam como união, respeito, educação, ética, enfim, não existirão, pois isto só existe naqueles que não são Filhos de fato. 
Tenham uma boa noite, meus filhos!”
Pai João pitou mais uma vez e desincorporou. 
Diante dele, seus filhos, com olhos marejados, rosto rubro, agradeciam a lição. 

Saravá a Umbanda, salve a sabedoria, salve os Pretos Velhos.


Fonte: Rodrigo Queiroz, texto de apoio para o curso virtual "Arquétipos da Umbanda", www.ica.org.br.